terça-feira, 12 de outubro de 2010

AMARCORD

       




   



   UM PONTO DE VIRAGEM NA FILMOGRAFIA DE FELLINI
     
      Mais do que (re)ver um filme admirável, eis aqui uma oportunidade de ouro para assistir em sala a uma das obras mais emblemáticas do cinema de sempre.
     
      A obra de Frederico Fellini é uma das mais respeitadas da cinematografia mundial e o seu nome, a par de outros como Antonioni, Visconti, Bertolucci e Rossellini, é sinónimo de grandeza histórica do cinema italiano. Nascido em 1920 e desaparecido em 1993, a sua capacidade criativa e poder fantasioso ficaram bem patentes em títulos como “A Estrada” (1954), “Doce Vida” (1960), “Satyricon” (1969) e “O Navio” (1983), sendo que este “Amarcord” é talvez a sua obra mais popular. A esse facto não será alheio o retrato pitoresco, bizarro mesmo, de uma Itália dos anos 30 simbolizada numa pequena cidade do norte mas que espelha bem uma atitude muito italiana. “Amarcord” tanto possui uma áurea de romantismo como imediatamente de obscenidade, tanto se revela social e politicamente interventivo como se encerra na sua beleza tórrida.
     
      A narrativa situa-se geograficamente em Rimini, cidade do Adriático. Alguém busca no sótão das suas memórias referências do seu passado e quedamo-nos nos fascistas anos 30, junto do jovem Titta (Bruno Zanin). Através de Titta e da sua ânsia de descoberta, vagueando com este por praças e ruas, fugindo da desordem familiar em que vive, é-nos apresentado um universo de gentes bizarras em tempos de fervor fascista. Desse modo, adquirem cor actos simples como uma ida ao cinema ou a passagem de um misterioso barco de cruzeiro ao largo da cidade. Entretanto, a mãe de Titta morre e este, mais tarde, começa a sentir os apelos da sexualidade. É o decorrer de uma vida normal também para o jovem.
     
      “Amarcord” marca a filmografia de Fellini não apenas pelo revisitar do passado que o realizador executou. Esta é, efectivamente, uma intensa incursão às memórias da sua juventude, aos tempos em que cresceu e se fez homem marcado pelos embustes do fascismo e pela passividade dos italianos ao regime. E é mesmo a partir deste contexto que nasce muito do fascínio pelo filme: em termos emocionais através do olhar de uma criança descobrindo o seu mundo e em termos intelectuais pelas suas evidentes conotações políticas. No entanto, este é também o filme que definitivamente distancia o cineasta do realismo transportando-o até ao universo fantasista que marcaria a sua filmografia posterior. Mesmo podendo não ser o melhor Fellini, este é contudo um filme obrigatório.
     

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