quarta-feira, 13 de outubro de 2010

CAPITÃES DE ABRIL






      A HOMENAGEM FALHADA
     
      Vacilei bastante antes de me dispor a escrever sobre este filme. É com mágoa, mas sem quaisquer dúvidas, que me decidi a fazê-lo. Com mágoa devido ao que e a quem se pretendia homenagear e à latente sinceridade voluntariosa de Maria De Medeiros, mas sem dúvidas porque este é, realmente, o filme menos conseguido a que assisti nos últimos tempos. De tal forma o é que, ao pretender demonstrar as dificuldades de logística e organizacionais dos revolucionários, em vez de uma homenagem aquilo que se obtém como produto final é a simples ridicularização (mais adequada a um filme satírico) daqueles que, para o bem ou para o mal, inverteram o decurso da história de um povo. E, para os que não viveram esses momentos tudo é muito surrealista, muito inverosímil no sentido em que acções de tal forma ingénuas podem ter destituído um regime ditatorial de 48 anos, mantido à força e com braço de ferro.
     
      O argumento propôs-se ficcionar, com base verídica, uma revolução (acompanhando o percurso de Maia (consagrando Salgueiro Maia, um dos oficiais do movimento dos capitães) ao mesmo tempo que desenvolve uma narrativa paralela de um casal à beira da ruptura. Esta excelente intenção esbarra no entanto com a incipiente construção do desenrolar da trama. Não se consegue compreender porque é que o governo ditatorial capitula e foge pois a estrutura da revolução é de tal forma ténue, que se trata de uma fuga patética. Não houve o bom senso de mostrar alguma da preparação do golpe de estado, como forma de elucidação. No drama amoroso Antónia (Maria De Medeiros) acaba por abandonar Manuel, o marido, para ficar com um seu aluno libertado das prisões da PIDE quando, apesar do desmoronar do casamento, não havia até esse momento um suporte forte que permitisse tal desenlace. Positivos o momento em que Spínola retira o comando das tropas a Maia - aí sim homenageando o homem atribuindo-lhe para a história o injusto anonimato, como quase sempre sucede com os verdadeiros heróis -, e quando o próprio Maia se interroga, numa descrente antevisão do futuro, dos resultados da revolta política exercida.
     
      Em termos técnicos, apesar da estrutura de superprodução que o filme encarna, há lamentáveis erros. A dobragem dos actores estrangeiros é rudimentar e nas interpretações salvam-se Joaquim De Almeida (Gervásio), Luís Miguel Cintra (O General que protagoniza a melhor cena de todo o filme, quando invectiva os soldados revoltosos) e Frédéric Pierot (Manuel). Maria De Medeiros tem uma actuação regular e Stefano Accorsi (Maia) é atraiçoado pela dobragem que lhe impuseram. Lamentável é também a forma com frases típicas da revolução são colocadas na boca dos intérpretes sempre de forma forçada e soando como autênticos lugares comuns.
      Em suma o 25 de Abril, os espectadores e, sobretudo, Maria De Medeiros, mereciam ter sido mais bafejados pela sorte no produto acabado de nome «Capitães de Abril».

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