terça-feira, 12 de outubro de 2010

CULPA HUMANA




      A VERDADE ESCONDIDA
     
      Nicole Kidman assume-se cada vez mais como a actriz do momento; dirigida por Robert Benton, realizador oscarizado em “Kramer Vs. Kramer”, a actriz mostra aqui mais uma das muitas faces do seu talento; infelizmente, tal não chega para fazer deste um grande filme.
     
      Robert Benton contou nesta sua obra com um extraordinário elenco onde desponta o par formado por Anthony Hopkins e Nicole Kidman mas também os secundários de luxo Ed Harris e Gary Sinise. Se adicionarmos a isto que “Culpa Humana” se baseia numa importante obra literária da autoria do proeminente Philip Roth, então estariam à partida reunidas as condições para que este fosse um filme brilhante. Contudo, pese embora as excelentes interpretações do elenco, a sensação é de que algo falhou. Percebe-se, sobretudo, um problema de verosimilhança do filme com a vida. Dito de outra forma, é como se a narrativa tivesse sido manipulada com objectivo único de se chegar a um tema central descurando aspectos importantes para a sua credibilidade.
     
      A trama incide sobre o controverso percurso de vida de um brilhante professor universitário de uma universidade da Nova Inglaterra. Após um incidente numa aula, Coleman Silk (Hopkins) é acusado de racismo e acaba por se ver empurrado para fora da instituição. A vida de Silk entra então numa espiral de negativismo de onde só consegue sair graças à sua amizade com Nathan Zuckerman (Sinise), um escritor em crise, e a uma relação amorosa iniciada com Faunia Farley (Kidman) uma mulher com metade da sua idade. Como agravante, Faunia carrega em si um passado pleno de sofrimento e abusos dos quais o ex-marido (Ed Harris), um transtornado veterano de guerra, é apenas um exemplo. Lutando contra as injustas acusações de racismo que lhe são feitas e procurando defender a mulher que ama e recuperara parte de si para a vida, Coleman Silk acredita que enfrentar a verdade é a única forma de salvação. E a verdade é que Silk escondera de todo o mundo um segredo que revelado tornaria irónica a calúnia de que fora alvo. Ele é alguém que se renegara a si mesmo devido à sua ocultada condição humana.
     
      O filme une personagens perdidas na vida confrontando-as entre si com a intolerância e o racismo no propósito de denunciar a hipocrisia da sociedade norte-americana. Facto nada ingénuo tem que ver com a adaptação do filme à época em que o país se encontrava mergulhado no escândalo Clinton vs. Lewinski. No entanto, a realização não consegue fugir a uma estrutura narrativa um pouco gasta e os mecanismos de transição entre o presente e o passado que apresenta estão longe de funcionarem em pleno. Em boa verdade, entre o explícito e o implícito o filme cai sempre para a primeira opção e isso acaba por comprometer algo nas expectativas do espectador relativamente à intriga. Ainda assim, estamos na presença de um filme bem agradável de seguir.

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