domingo, 31 de outubro de 2010

Ela no seu mundo






 


Faltam pouco mais de 5 minutos para as 7 horas da tarde, o Holmes Place de Algés está bem composto e eu espero tranquilamente pela aula de RPM. Como sempre, ela chega de mansinho e fica muito quieta junto às escadas de acesso ao estúdio à espera do início da aula quase sem dar a perceber aos outros a sua presença. Tem os cabelos castanhos, um castanho muito claro, os cabelos não muito compridos, olhos também castanhos a olharem, eles sim, os olhos dela, irrequietos, para a azáfama habitual de quem se movimenta entre os estúdios, o ginásio, a piscina ou os balneários. Ainda assim, repentinamente o seu olhar parece quedar-se em algo, para, de imediato, quase com brusquidão, voltar à agitação habitual. Normalmente não fala com ninguém, limita-se a esperar pela aula e, circunstancialmente, a responder educadamente a quem a interpela. Mas mesmo nesses momentos tem a tendência para refugiar o seu olhar novamente no infinito particular escondendo-o de quem se lhe dirige. Escolhe quase sempre a mesma bicicleta que adapta calmamente a si enquanto mastiga uma pastilha com toda a suavidade do mundo, do mundo. De vez em quando sorri a uma ou outra laracha do instrutor de serviço, sorri enquanto se aplica generosamente durante todo o tempo que dura o exercício. No final, transpiração a escorrer-lhe do rosto para a T-shirt também ela encharcada do esforço desenvolvido, encaminha-se silenciosamente para o balneário. Estranhamente, pela forma calada como se movimenta, pelo facto de parecer estar só no meio do grupo, sinto que esta mulher intrigante parece estar muito longe de tomar conhecimento da elegância com que se move naquele que parece ser um mundo muito seu, apenas seu, o mundo dela, ela no seu mundo.
 








Sem comentários: