quinta-feira, 14 de outubro de 2010

THE EYE - VISÃO DE MORTE



      COM A MORTE NO OLHAR
     
      As histórias de premonição da morte desde sempre exerceram sobre nós um inquietante fascínio; em «The Eye – Visão de Morte» estamos apenas perante mais uma delas. Mas extremamente bem contada.

     
      «Jian Gui», no seu título original, é a segunda longa-metragem da parceria na realização formada pelos gémeos tailandeses (nascidos em Hong-Kong) Danny e Oxide Pang – o primeiro data de 1999 e tem como título «Bangkok Dangerous». Filme fantástico de terror paranormal, apresentado no Festival de Sitges de 2002 onde viu premiada a sua fotografia assinada por Decha Simantra, um primeiro olhar pelo seu argumento faz-nos pensar de imediato em influências colhidas da obra de M. Night Shyamalan, «O Sexto Sentido» (1999), e na célebre frase pronunciada pela personagem do pequeno Halley Joel Osment: “I see dead people”. Com efeito, também a personagem principal do filme dos irmãos Pang vê gente morta e, talvez numa analogia mais importante, esta sua capacidade circunstancial vá tentar ser explicada de modo racional pelo filme. Mas essas serão afinidades argumentais que não se mostram de importância capaz de retirar brilho ou tornar menos interessante esta valorosa proposta de cinema que nos chega de Hong-Kong. É bom que se diga igualmente que por terras asiáticas o filme obteve um estrondoso sucesso de bilheteira e virou mesmo obra de culto para os aficionados do cinema do género.
     
      Ainda assim, não creio que estejamos perante uma obra incontornável dos filmes de terror. Estamos sim na presença de uma fita bastante interessante, inquietante a espaços e extremamente bem realizada. Tudo isto pese embora a parca inovação do seu argumento. Um argumento que é, inclusivamente, o principal responsável por um certo desequilíbrio que se pressente na estrutura narrativa lamentando-se que a parte final do filme não corresponda totalmente às expectativas criadas no início.
     
      Mun (Angelica Lee) é uma jovem de 20 anos que perdera a visão com a idade de 2 anos. Vivendo somente com a avó e uma irmã que tem pouco tempo para si, Mun sujeita-se a uma operação de transplante da córnea no sentido de recuperar a visão. Aparentemente, a intervenção cirúrgica corre bem mas nos primeiros dias de adaptação à sua nova realidade, entre os vultos e sombras pouco definidos que apenas consegue ver, a jovem julga distinguir corpos que não só não pertencem ao mundo dos vivos como se afiguram como um prenúncio de morte. O seu médico não dá muita importância ao facto julgando tratar-se de efeitos secundários da operação mas com o evoluir do tempo as coisas degradam-se e apenas o Dr. Wah (Lawrence Chow), um jovem psiquiatra, decide ajudá-la. Mun resolve então enfrentar os seus medos e o seu instinto leva-os (a ela e ao fiel Dr. Wah) até um pequeno povoado na Tailândia.
     
      Mostrando o seu lado mais desenvolto no tratamento das técnicas de filmagem, é através de movimentos da câmara e consequente busca de novas perspectivas que os Pang vão criando o medo e a inquietude ao espectador. Em boa verdade, o cinema que observamos em «The Eye – Visão de Morte», resulta de uma estética aprimorada que torna tudo muito mais explícito como se essa fosse desde sempre uma intenção da realização. E esta característica jamais se revela com menor potencial para tratamento de uma temática que, acredito, em cinema não tem forçosamente de fazer com que o espectador salte constantemente da cadeira. Isto se em alternativa conseguir criar elementos capazes de o prenderem ansiosamente à tela. E os irmãos Pang conseguem-no criando um filme que se destaca pela solidez da sua narrativa e pelo cuidado com que gere as diversas influências que estão na sua origem. Desde o já citado «O Sexto Sentido» até «Ringu» (1998), de Hideo Nakata, onde uma mulher se encontra no epicentro de uma história em que se buscam explicações para fenómenos sobrenaturais. Desse modo, poderá não ser pela inovação que este filme mais se distinguirá. Mas o que não é menos verdade é que possui momentos de verdadeiro terror e outros de inquietante análise a questões que desde os primórdios nos provocam pele de galinha. A ver. E não apenas pelos amantes do género.


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