quarta-feira, 13 de outubro de 2010

KILL BILL - A VINGANÇA

      




      UM TARANTINO DE HONRA
     
      Observando a filmografia anterior de Quentin Tarantino, dela ressalta o humor negro, os diálogos forjados com invulgar mestria, a desmesurada exposição da violência e a aproximação a uma determinada cultura popular. Algumas destas características podemos encontrá-las em “Kill Bill – A Vingança”. Embora, esclareça-se, numa dimensão bem mais visual que assenta na extravagância das cenas de acção e onde a assumpção do ‘non-sense’ que rasga a narrativa é condição essencial para se poder assimilar os objectivos artísticos do peculiar realizador.
     
      “Kill Bill” é a história de uma vingança sem tréguas. Uma mulher, que o filme designa por A Noiva (Uma Thurman), é violentamente atacada por um comando assassino durante a cerimónia do seu casamento. Ela irá passar quatro anos em coma profundo e quando desperta para a vida no seu horizonte apenas paira a ameaça da morte. Uma ameaça por si dirigida ao comando que a atacou assim como ao seu líder. Para poder concretizar esse sanguinário objectivo, A Noiva viajará não apenas por lugares da América como se desloca até à ilha de Okinawa e a Tóquio, no Japão.
     
      Numa moda que ameaça pegar, e por decisão da Miramax, produtora do filme, “Kill Bill” foi partido em duas partes. Nesse âmbito, esta primeira parte foi originalmente designada de “Vol. 1”, numa alusão que se pressente muito mais à 9ª arte – a BD, que à literatura no sentido clássico da expressão. Devido à partilha do filme, Bill (David Carradine) que é o líder do comando assassino, apenas surge por indução (o rosto nunca é mostrado) e pela voz, enquanto Michael Madsen, que corporiza um membro integrante do comando, surge quase que em simples ‘cameo’. Completam o grupo homicida as personagens defendidas por Lucy Liu, Daryl Hannah e Vivica A. Fox. Todos eles são os alvos a abater pel’A Noiva para vingar o atentado de que fora vítima e a morte do seu filho (ela estava grávida quando foi atacada).
     
      “Kill Bill” recolhe referências óbvias dos filmes de Sérgio Leone integrando cenas que declaradamente nos conduzem para os ambientes encantatórios dos ‘Western Spaghetti’. Mas é no universo dos filmes de artes marciais popularizados nos anos 60/70 que Tarantino quis situar o seu filme. Contando com uma montagem genial, que não respeita cronologias para criar impactos, todas estas referências se assemelham a um poema delirante e esotérico que evidencia o carácter trocista e genial do cineasta. Por entre braços extirpados e cabeças a rolarem sobre pavimentos ensanguentados, ressalta uma obra de técnica fabulosa que nos atinge certeiramente nas nossas emoções. O cinema de Tarantino é feito de alianças. Em “Kill Bill” dá-se uma bastante importante que tem que ver com a modernidade conceptual inerente à forma e com o existencialismo primário evidenciado pelo conteúdo. Para além disso, percebe-se a ironia de um sorriso: o de Tarantino, claro está.


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