quarta-feira, 13 de outubro de 2010

LARA CROFT: TOMB RAIDER - O BERÇO DA VIDA

  

      CROFT, O MEU NOME É LARA CROFT
     
      Está de regresso aos filmes a audaciosa arqueóloga de fardamento justo e corpo insinuante, ela que saíra em 2001 do seu universo natural, os jogos de vídeo, em «Lara Croft: Tomb Raider», filme dirigido por Simon West. Esta obra resulta no nosso tempo de um processo tão natural de sequelas relativamente às produções do género que pouco importa se os primeiros filmes obtiveram o efeito desejado junto dos espectadores. Isto, porque as ditas sequelas se tornam desde logo num dado adquirido e porque esta é uma conclusão possível de retirar pois cabe aqui dizer que o primeiro filme da saga, de tanto procurar respeitar os cortantes delírios do jogo de vídeo em que se inspirara, resultara num produto híbrido que nunca chegou a tornar-se propriamente em filme de acção ou sequer o seu argumento possuía atributos que almejassem fazer de si um minimamente interessante filme de aventuras. Dito isto, pouco valor terá afirmar que, dentro das suas limitações – e são muitas, esta continuação resultou muito melhor que a película que a antecedeu. Talvez porque, desta feita, este é claramente um filme de acção cruzado de filme de aventuras. Um pouco longo demais, aborrecido aqui e ali, previsível a todo o tempo, mas ainda assim um filme de acção/aventura.
     
      Angelina Jolie mantém-se na pele de Lara Croft. Já na cadeira da realização passou a sentar-se Jan de Bont. O realizador, capaz do melhor («Speed», 1994) e do pior («A Mansão», 1999), revelou aqui ser um cineasta conhecedor das coordenadas do filme de aventuras e dominador das técnicas do filme de acção. Infelizmente, isso não foi suficiente para fazer desta uma obra relevante e consistente de tal modo o seu argumento bebeu inspiração em tudo quanto é filme do género. Isso provoca com que, amiúde, a narrativa se transforme num muito maçador desfilar de clichés e desenlaces tão previsíveis quanto enfadonhos. Assim, qual James Bond de saias, Lara Croft conduz vertiginosamente motas de água nos mares da Grécia, monta corajosamente a cavalo nas ilhas britânicas, segue perigosamente de moto pelas muralhas da China, desafia as leis da física em Hong Kong, tem um novo amor a cada novo episódio e acaba como Indiana Jones de valiosa jóia na mão lutando por uma causa algures no recôndito coração de África. Pelo meio, vence um comando chinês letal e marginal e combate um cientista assassino, megalómano e desequilibrado. É obra, mas é também pena que já tudo tenha sido tão visto anteriormente.
     
      Apesar disso, a realização de De Bont tem os seus méritos assim como as boas intenções do argumento. Este que foi trabalhado de molde a tecer uma intriga que, diga-se em abono da verdade, jamais se revelou capaz de, só por si, prender a atenção do espectador. Baseado em questões mitológicas, a trama constrói-se em volta da Caixa de Pandora e da tentativa da sua obtenção por parte de Jonathan Reiss (Ciarán Hinds), um antigo prémio Nobel virado malfeitor à escala mundial que negoceia armas químicas com o mundo do crime. A vertente amorosa consolida-se através de Terry Sheridan (Gerard Butler) um aliado que Croft desencrava de uma prisão de alta segurança situada numa antiga república soviética mas em quem a arqueóloga não pode confiar totalmente. No final, valem ao filme as intrépidas cenas de acção, a sofrível interpretação de Angelina Jolie e as tentativas dos seus autores em o dotarem de algo mais que uma simples reprodução cinematográfica do jogo de computador. Por demasiado óbvia, assinale-se ainda a tremenda carga publicitária a que o filme foi sujeito. Refira-se, a propósito, uma imagem nocturna de Hong Kong para exclusiva observação dos painéis publicitários sobre os enormes edifícios da cosmopolita cidade do sul da China e a elevada promoção de uma série especial e limitada de um novo veículo da marca Jeep. Curiosamente, este é até um facto positivo a assinalar já que, se bem gerida, esta vertente acabará ela mesmo por se assumir como razão substancial para a continuação da saga. Veja-se o caso peculiar do nosso bem conhecido James Bond tão fiel a certos relógios, determinadas bebidas, alguns automóveis...


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