terça-feira, 12 de outubro de 2010

A LENDA DO CAVALEIRO SEM CABEÇA











O CINEMA EM TODO O SEU ESPLENDOR
     
      "A Lenda Do Cavaleiro Sem Cabeça" é mais uma adaptação ao cinema de uma obra literária, desta feita do escritor americano Washinton Irving e nunca poderá ser apreciada como uma edificação realista mas sim o relato fantástico de uma lenda sobrenatural mais no domínio do filme de aventuras que, propriamente, na categoria de terror em que está catalogado. Ou não fosse o seu realizador, Tim Burton, maestro mor da luz e da obscuridade afirmando o medo numa emoção convertível em riso.
     
      A acção decorre nos finais do Séc. XIX onde, numa pequena localidade a norte de Nova Iorque de nome Sleepy Hollow, maioritariamente constituída por colonos holandeses, supostamente o fantasma de um cavaleiro sanguinário regressa das entranhas da terra para cortar algumas cabeças, acabando com o sossego dos locais. O homem destacado, desde Nova Iorque, para investigar as estranhas mortes é Ichabod Crane (Johnny Depp), numa interessante resolução, visto ser este um homem que se afirma crente na "inteligência e raciocínio, causa e consequência". Não imagina ao que vai, mas necessitará abrir os seus horizontes cogitantes do domínio meramente científico para a anormalidade ininteligível. A história é ainda povoada por Katrina Van Tassel (Christina Ricci) um misto de fada e bruxa, bem intencionada, que irá confundir o espectador e seduzir o investigador. Antes da morte e depois de recuperar a cabeça, o sanguinolento cavaleiro é Christopher Walken. Os cascos do possante galope do seu cavalo ecoam como marteladas impiedosas...
     
      Se este é um filme em que está presente toda a magia do cinema e a primeira sensação que se tem, para quem já tenha visitado um parque de diversões da Disney (Burton iniciou-se na Disney), ou outro similar, não pode deixar de sentir o desfilar de emoções análogo a quem viaja no "Comboio da Montanha" ou na "Gruta dos Piratas", como exemplo de grandiosidade da indústria cinematográfica, a vertente técnica apresenta-se como peça basilar para o sucesso desta película.
     
      E, neste ângulo, se assistimos a uma caracterização e guarda-roupa perfeitos e uma banda sonora muito colaborante com a acção, o destaque vai no entanto inteirinho para a fotografia. Extremadamente perfeita e notável. A soturnidade monocromática é, constantemente, salpicada por contrastes de luminosidade. Eu diria mesmo que a atribuição do Oscar nesta categoria, para a qual o filme está nomeado, será um mero exercício de uso do pendão da justiça.
     
      Os momentos de humor aplicam-se inteiramente no contexto referido como sendo este um filme apelativo de um certo imaginário mais fantasioso e menos assustador. O manuseamento das armas por parte do "cavaleiro sem cabeça" revela-se como momentos ímpares de destreza estética altamente sedutora.
     
      A "performance" do cast é boa, sem brilhos mas sem comprometer, acentuando ainda mais este como o trabalho de toda uma equipa. E, quando assim é, saudamos a equipa na pessoa do seu capitão. Neste caso, ele chama-se Tim Burton.

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