sexta-feira, 15 de outubro de 2010

REGRAS DA CASA




PONTO DE CHEGADA ERA NO PONTO DE PARTIDA
     
      Sinto em mim alguma vontade em ser benevolente com este filme. Não quero permitir-me ao enfado pelo facto de tratar um tema grave, como o aborto, procurando conduzir o espectador à redutora justificação de um mal menor. Ou mesmo importunar-me por, a um acto ímpio e imperdoável como o incesto, se lhe oponha um drama ainda maior provocando, pelo inevitável diluir da concentração, um certo alheamento da repulsa. Já não quero é resistir ao desalento por se procurar justificar uma bela e espontânea paixão pela debilidade emocional como causa e efeito da ausência do outro.
     
      «As Regras Da Casa» é o novo filme de Lasse Halström, num argumento de John Irving adaptado da obra literária de...John Irving. E, tratando-se de um belíssimo romance, a verdade é que o filme não resulta totalmente tardando, inclusive, a absorver e fazer com que o espectador se envolva na trama. As paisagens escolhidas são lindíssimas, diz-se que num claro piscar de olho aos Oscares, mas que importa isso se o facto é que são imagens realmente belas!?
     
      O que faz com que deseje absolver este filme de alguns males de que padece é, no entanto, a história rica e melodramática que nos conta. Tudo começa e acaba num orfanato e nas figuras de Homer Wells (um ingénuo e muito humano órfão, nunca adoptado, bem interpretado por Tobey Macguire) e do dedicado e altruísta director do orfanato e médico de abortos, sempre em razão de mal menor, Dr.Larch (um seguríssimo e proporcionado - por nada ter a provar - Michael Caine). Destaque para a conseguida intensidade da relação de dedicação e amor entre orfãos e serviçais do orfanato. Homer acaba por partir com um jovem casal, que havia procurado os serviços do Dr. Larch, na busca de uma identidade e do seu lugar que, depois de uma frustrada relação amorosa e de ter cedido àquilo a que sempre se havia negado, constata ser exactamente no orfanato, local da partida. Não sem que antes tudo tenha feito para resistir aos intentos do médico no intuito de que regressasse e continuasse o seu trabalho.
     
      Estamos pois perante uma lindíssima e, de forma esporádica, comovente história mas que tem a molesta desvirtude de querer pegar o espectador pela mão procurando conduzi-lo.

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