quinta-feira, 14 de outubro de 2010

UM GOLPE EM ITÁLIA



      MINI COOPER, O REGRESSO DE UMA ESTRELA
     
      «The Italian Job», no seu título original, foi realizado por F. Gary Gray, um jovem cineasta em cujo currículo podemos encontrar títulos como «O Negociador», filme datado de 1998 e que conta no seu elenco com nomes grandes da interpretação como Samuel L. Jackson e Kevin Spacey, e, ainda com recente exibição nas nossas salas, «Um Homem à Parte» (2003), protagonizado por Vin Diesel. Nesta sua obra, Gary Gray aventura-se numa realização que, quanto a mim, é muito mais um filme inspirado no clássico inglês assinado por Peter Collinson – e que tem como cabeça de cartaz Michael Caine, que propriamente um ‘remake’ deste. Em boa verdade, as coordenadas da fita do realizador americano situam-se recuperando o espírito de um ‘thriller’ onde brilham os muito populares Mini Cooper em frenéticas perseguições, mas foge bastante ao tom de paródia que fez muito do êxito do filme de 1969 para se materializar bem mais no género de acção.
     
      Também o argumento desta produção americana sofre algumas variações importantes relativamente ao seu predecessor. Charlie Crocker (Mark Whalberg), conhecido pela sua capacidade de organização de golpes, é o cérebro de um roubo de centenas de lingotes de ouro que deverá ter lugar na romântica cidade italiana de Veneza. Depois de assaltado com sucesso o ‘Palazzo’ veneziano, já na posse do móbil do crime e quando tudo parecia correr bem, a surpresa acontece. Entre o grupo de assaltantes encontra-se afinal um traidor. Ainda para mais, como se poderá constatar posteriormente no desenvolvimento do enredo, este é alguém que mais que ficar na posse de todo o produto do assalto possui o maquiavélico desejo de viver para si os desejos dos outros cúmplices. Nomeadamente no meio de gastar o dinheiro que resultar da venda do ouro. A acção muda-se então para os Estados Unidos e o único intuito dos enganados, com a personagem corporizada por Mark Wahlberg à cabeça, reside na busca de vingança sobre o traidor. É mesmo caso para se concluir que, para o restante do grupo, a popular expressão de que “ladrão que rouba a ladrão tem cem anos de perdão” não existe, não tem cabimento. A ajudá-los vai estar a belíssima Stella (Charlize Theron) que não só é filha de John (Donald Sutherland), o especialista do bando em arrombar cofres, como parece ter herdado a perícia do pai para lidar com fechaduras de alta segurança.
     
      «Um Golpe em Itália» mergulha dessa maneira no filme de acção ou, se quisermos, no policial onde não existe a figura do homem da lei já que a caça ao criminoso é levada a cabo, de um modo geral, por outros criminosos. Ainda assim, neste duelo entre profissionais do mesmo ofício, de um lado vai estar o malfeitor empedernido, o fora da lei sem qualquer lei a orientá-lo nos seus actos e, do outro lado, os marginais que não abdicam de um código de honra entre si, embora este esteja somente presente entre eles de forma muito tácita.
     
      Nesta espécie de bailado que se inicia sob os acordes de uma traição para ter o seu momento alto ao som dos rugidos dos nervosos Mini Cooper por entre ruas em hora de ponta e por dentro de túneis do metropolitano, é importante a componente cerebral dos actos perpetrados onde o elemento que mais impera é o cinismo. O filme conta também com a participação de Edward Norton, um dos maiores nomes de actores da sua geração, que apesar de não se poder dizer que tenha neste filme uma prestação menor – até porque o valoroso actor não sabe representar mal – me pareceu que as suas potencialidades poderiam ter sido muito melhor exploradas. Já quanto a Mark Wahlberg, não se me afigura que perca na comparação com Michael Caine, o Charlie Crocker da obra anterior. Isto porque os registos algo diferentes dos filmes não permitem efectuar comparações plenas de justiça, embora, reconheçamo-lo, nos diferentes carismas entre um e outro actor se penda claramente para uma muito maior aceitação de Caine.
     
      Em suma, estamos na presença de um muito agradável filme de acção que aposta sobretudo na sua dimensão de entretenimento. E mormente por via das espectaculares sequências de perseguição que este nos oferece, pode dizer-se que F. Gary Gray ganhou a aposta. Para além disso, o cineasta criou um filme bastante interessante que optou por prestar uma homenagem ao invés de procurar refazer aquilo que não deve ser tocado – e neste aspecto julgo que estamos todos de acordo. Deste modo, e para lá do anteriormente referido, resta-nos apenas cumprimentar o realizador por mais este sinal de inteligência.

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