terça-feira, 12 de outubro de 2010

A VERDADE ESCONDIDA

     

     







 O MEDO NA CASA DO LAGO
     
      A história de suporte a esta realização de Zemeckis tem quase tudo aquilo que mais me agrada num filme: vagueia através da perturbação psicológica de uma das suas personagens nucleares, decorre em intenso ambiente de fascínio sobrenatural, e intenta acrescentar-lhe uma elevada dose de mistério. Acresce a este facto o pormenor interessante de ser um filme de "quase terror", mas sem aqueles exageros incongruentes que costumam caracterizar as obras que integram a plenitude do género.
     
      Antes de mais, passemos a descrever uma resumida sinopse. Norman Spencer e a esposa Claire mudaram-se havia não muito tempo para uma casa renovada à beira de um lindíssimo lago. Aparentemente têm um casamento feliz, mas tudo começa a alterar-se quando Claire fica grande parte do tempo sozinha na casa. A filha única de ambos muda-se para uma residência universitária e Norman é absorvido pelo seu intenso trabalho no campo da investigação. Claire começa a ser perturbada por estranhas visões de uma linda jovem, relacionando o facto com um estranho casal de vizinhos. Sucede-se a ajuda psiquiátrica, a incompreensão do marido, o angustiante recorrer à feitiçaria e as coisas precipitam-se, o seu mundo fica prestes a desmoronar-se sobre si.
     
      A primeira parte do filme resulta numa intensa concentração em Claire e no início da sua perturbação, não se livrando no entanto de uma certa monotonia. As coisas conhecem um outro desenvolvimento, com uma outra capacidade de prender a atenção do espectador, a partir do meio da fita. Tecnicamente o filme reúne alguns predicados interessantes. Numa história onde se revela fundamental a captação das sombras, dos reflexos inexplicados e dos sons inesperados, o trabalho feito é competente. Inclusivamente, as câmaras conseguem captar ângulos de filmagem esplêndidos, não hesitando em socorrer-se da ajuda dos inúmeros espelhos metodicamente espalhados pela casa. A produção não falhou, também, na escolha do cenário apropriado: uma mansão remodelada, de arquitectura majestosa mas antiga, apoiada numa nostálgica paisagem de um lago circundante. Em termos de "casting" nada há a dizer, pode mesmo reconhecer-se que as figuras carismáticas de Pfeiffer e Ford acabam por salvar largos minutos de fita, onde a monotonia ameaçou imperar.
      Onde o filme acaba por falhar claramente é exactamente onde não poderia deixar que tal sucedesse. A partir do momento em que se inicia a narrativa, prometendo muito nesse campo até, o espectador é levado por uma história onde se quer que predomine e se agudize de forma crescente o mistério sobre os acontecimentos descritos. Mas fica longe de se atingir esse objectivo. Cena após cena, minuto após minuto, a história e o seu desenlace tornam-se maçadoramente previsíveis... Hitchcock fez sempre muito melhor!
     
      Para terminar, o destaque de uma cena brilhante na conjugação de três importantes aspectos artísticos: efeitos especiais, caracterização e representação. Quase no fim do filme, um corpo morto do que foi uma belíssima jovem, carregando uma alma em busca de descanso, puxa alguém (depois terão oportunidade de ver quem) para o fundo do lago. Após concretizar esta acção desliza suavemente enleado na estrutura das frias águas do referido lago até ao pretendido descanso final. Perdoem-me o carácter alienado da expressão, tendo em conta ao que me refiro, mas achei simplesmente maravilhoso, lindo...!

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