quinta-feira, 14 de outubro de 2010

VIDA INTERROMPIDA

     



VOANDO SOBRE UM NINHO DE CUCOS
     
      O filme acaba no exacto momento em que Susana (Winona Ryder), desiste da saudável loucura de reagir e lutar. O táxi afasta-a da clínica porque se deu a rendição e cedeu às exigências de um mundo de aparências, de convergências e de entediantes e "correctos" comportamentos. Para o espectador fica a sensação de que James Mangold (realizador) se limitou a um relato descritivo, onde chegou a adoptar um processo de intenções relativamente a aflorar as eternas questões de onde começa e acaba a loucura e, afinal, o que é isso de ser louco. Muito por culpa de um argumento demasiado convencional e pouco ousado, tendo em conta o fascinante e enigmático tema da alienação, «Vida Interrompida» é um filme em que a sensação maior transmitida é a oportunidade perdida por parte dos seus autores.
     
      Não se pense que estamos perante um filme falhado. Não o devemos dizer, nem pouco mais ou menos, visto ser bastante agradável e emocionante, por vezes. As suas personagens chegam a provar com é altamente sedutor um rasgo de destempero colocando a nu a fragilidade da imaginária linha divisória entre o desvario resultante de uma enfermidade ou o desatino como prova da capacidade de ser brilhante e audacioso. Trata-se sim de uma latente incapacidade de ir mais além, trabalhando a matéria prima de forma a obter algo de primoroso. Se observarmos que se adaptou aqui uma espécie de auto-retrato de um período da vida da escritora Susana Kaysen, então conferimos a parca criatividade, não na construção psicológica de algumas personagens, mas sim na sua incoerente existência num hospital psiquiátrico. A singular excepção está na figura personalizada por Angelina Jolie. Mas, pese embora o facto do Oscar atribuído a esta actriz e na inevitável comparação que obrigatoriamente há a fazer com «Voando Sobre um Ninho de Cucos», de Milos Forman, esta não tem, sequer de forma aproximada, as potencialidades dramáticas de Jack Nicholson.
     
      Ainda com a participação de Whoopi Goldberg, o destaque vai inteirinho para o desempenho num pequeno papel de uma actriz magnetizante e de corpo inteiro: Vanessa Redgrave! Com efeito, se não há falhas a apontar à protagonista Winona Ryder sempre bastante competente, gostaria de realçar a veterana actriz pela sua postura irrepreensível de grande senhora, muito por culpa de inatas características pessoais, que a tornaram especialmente dotada para a profissão que escolheu. Quanto à premiada Angelina Jolie, mantenho e solidifico uma ideia antiga. Em determinados trejeitos e em certos olhares, a actriz atraiçoa as suas personagens o que não ajuda em nada à credibilização de um retrato. Quanto a «Vida Interrompida», eu que sou um desvairado entusiasta de incursões ao estranho mundo de mentes alienadas, achei que soube a pouco.

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