quinta-feira, 14 de outubro de 2010

WASABI - DUROS DE ROER

    
     



UM GENDARME A ORIENTE
     
      «Corky Romano», «Herança Canina», «Detective de Saltos Altos», «Rat Race», «A Máquina»... Os títulos são tantos e variados mas o género de comédia ligeira em que se inserem, longe de qualquer tipo de abordagem meditativa ou crítica, faz sempre temer o pior sobre a sua qualidade cinematográfica. São inúmeros os equívocos deste tipo de cinema no que se refere àquilo que se poderá designar como a dimensão do riso. Fazer rir é das tarefas mais difíceis que se possam imaginar e mesmo que a comédia se revele ausente de sofisticação criativa, adoptando inversamente um tipo de humor mais visual, não é fácil fazer rir. Pois é exactamente aquilo que faz deste «Wasabi – Duros de Roer», um estimável objecto fílmico. Através das boas prestações do seu elenco que evita sempre enveredar por um tipo de prestação do género “Querem ver a mim, querem? Querem ver a mim fazer umas caretas, querem? Querem rir-se, meus basbaques?”, e sem entrar nas mais que lamentáveis piadas grosseiras desgarradas do conteúdo da narrativa, o filme diverte. E mais se lhe não pode pedir, pois isso seria desejar que este extravasasse as fronteiras da sua própria natureza formal.
     
      Jean Reno é o Inspector da polícia francesa, Hubert Fiorentini. Forçado a tirar férias por motivo do seu muito violento “modus operandi”, acaba num avião com destino a Tóquio onde o espera uma inesperada herança e as cerimónias fúnebres da mulher que amou a vida inteira mas que não via há 19 anos. Dessa herança faz parte Yumi, uma frenética japonesinha quase a completar os 20 anos, e, surpreendentemente, uma quantia em dinheiro de 200 milhões de dólares. Mas o Inspector Hubert tem os Yakuza – Mafia japonesa – à perna e só pode contar com a ajuda de um seu antigo colega e admirador, o indizível Momo (Michel Muller).
     
      É exactamente na prestação dos actores que reside o maior trunfo deste filme. Numa prestação completamente atípica relativamente ao género de filme que rodou, Jean Reno, de forma deliberada, passa completamente ao lado da figura de comediante – basta dizer que Reno não esboça um único sorriso durante o filme – o que resulta espantosamente na narrativa. A par dos socos demolidores de Reno e das suas enfadadas reacções, a exposta função de comediante foi atribuída a Michel Muller. E mesmo este agiu sempre de modo natural, sem forçar a personagem, caindo muito mais na atitude do tipo estrambótico mas real. Quanto a Ryoko Hirosue, que para além de actriz é uma cantora famosa no Japão, ela transmite não só alvoroçada vivacidade como carinhosa fragilidade emocional à ilustração das personagens.
     
      Resumindo, «Wasabi – Duros de Roer» é um filme construído de forma a não desiludir quem dele espera que provoque unicamente relaxamento e diversão. Mas, como bónus paralelo, o espectador torna-se turista acidental e tem a possibilidade de “visitar” algumas zonas mais indispensáveis do Japão de hoje e de ontem: Tóquio, onde a produção filmou de forma clandestina – sem autorização de qualquer entidade e sob o olhar curioso dos transeuntes, que chegaram a abordar de modo avassalador Jean Reno e a popular Ryoko Hyrosue -, uma viagem no comboio bala com passagem pelo inevitável Monte Fujitsu, e Quioto, cidade ancestral, uma espécie de capital religiosa e espiritual do país do Sol nascente. Mas o filme não se fica por aí em termos de mostrar a cultura japonesa, uma vez que o “wasabi” (que empresta, inclusivamente, o seu nome ao filme) é um popular elemento da culinária japonesa. É uma pasta verde e picante que usualmente acompanha o “sushi”. Dado informativo essencial para este comentário crítico de cinema, é o que se consubstancia no facto do “wasabi” prevenir alegadamente as cáries pois inibe o crescimento dos “Streptococus”, uma bactéria que exactamente as provoca (às cáries).
     
      Por tudo isto, pode-se exigir mais a «Wasabi – Duros de Roer» e ao trabalho de Gérard Krawczyk, o realizador? Sejamos justos.

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