sexta-feira, 15 de outubro de 2010

X-MEN




      DO PAPEL PARA A TELA
     
      Numa época fértil em adaptações cinematográficas de figuras que nos povoaram o imaginário infantil e juvenil vindas directamente dos livros de quadradinhos, X - MEN é mais um exemplo de que nem sempre a coisa resulta satisfatoriamente. Apesar dessa factualidade, é-o para mim mas admito que isso possa ser questionável por outros, a causa maior do naufrágio qualitativo deste filme não reside no facto de não ser fiel às suas origens de Banda Desenhada.
     
      Sou daqueles que acreditam que qualquer adaptação cinematográfica - seja ela de um livro de ficção, da BD ou de uma história real -, tem que possuir "nuances" muito próprias, tem que alterar diversos factores para tornar a história propícia para as imagens na tela.
     
      E, no caso deste filme, até se pretendeu respeitar o passado criativo e para não desvirtuar a história original acabou por calcorrear caminhos desadequados. Se não, vejamos:
     
      Esta história foi editada pela Marvel, nos famosos "comic-book", pela primeira vez em 1963, há 37 anos portanto, tendo Stan Lee sido o argumentista e e Jack Kirby o desenhador. Seria retirada do mercado em princípios dos anos 70 por fracos resultados comerciais, voltaria depois nos 80 mas não trilharia aí o melhor rumo, para só a partir dos 90 se guindar à sua máxima força. Mas, enfim, isso não vem agora ao caso e são simples pormenores históricos. O que realmente nos interessa saber para a explanação que se pretende é que Magneto, o mutante mau, passou ainda jovem pelos campos de concentração nazis, logo, a data dos acontecimentos do filme estaria muito próxima da nossa actual. Os criadores dos bonecos idealizaram um progresso científico - há 37 anos, repito -, da posse dos mutantes que não se viria a concretizar na prática, sabemo-lo hoje (sequer temos mutantes, os mais aparentados sofrem de outro tipo de mutações e designamo-los somente por políticos...). Mas, sabendo disso, os fazedores da película deixaram que houvesse uma diferença de tecnologia entre os mutantes (atenção que me refiro aos aspectos logísticos e não às capacidades físicas inatas) e a sociedade civil tão grande que se revela absurda e inverosímil. Havia que ter a capacidade para alterar isto, e não se tratava de retirar avanço tecnológico aos mutantes, porque ela está na génese da estória, mas sim dotar os outros de uma melhor tecnologia...
     
      No entanto esta é uma crítica localizada ao filme dado que, em termos gerais, a maior maleita de que padece é a estrutura narrativa pobre, claramente insipiente. Há uma preocupação excessiva com os aspectos mais estéticos, plásticos, de arquitectura de vanguarda cientificamente presumida. E no entanto, noutro aspecto da sua estruturação, numa sociedade não muito distante em termos temporais, povoada pelo medo e preconceito na relação dos ditos normais com os sobredotados (mutantes), com a inclusão de personagens que de tão ricas são capazes de telepatia suprema, olhares destruidores, garras saídas da própria carne, línguas compridas e salivas colantes, regeneração dos tecidos orgânicos do próprio corpo, etc., etc., é tudo descrito muito "en passant", diria mesmo de forma incompetente.
     
      Há no entanto uma explicação para estes pormenores de ligeireza, mas que apesar de a explicarem razoavelmente de forma nenhuma a desculpam. É que este é o caso típico de filme em que faz sentido falar numa saga, numa série próxima de filmes continuadores da história. E nós somos inclusivamente descaradamente enviados para o próximo filme, tal como Magneto jura voltar aos seus actos criminosos e o Professor Xavier se dispõe a lutar contra isso, e tal como Wolverine é instado a seguir para determinado local em busca de respostas para o seu tormento. X - MEN é pois o típico filme feito com o intuito devastador de realizar dinheiro sobre todo o resto, resolvido e fidelizar seguidores, e com o objectivo redutor de se tornar um simples "blockbuster". E este, que poderemos designar como o primeiro da saga, não passará de uma apresentação sumária do que estará ainda para vir.
     
      Em termos de avaliação do trabalho dos actores, o destaque maior e positivo vai para os veteranos Ian Mckellen e Patrick Stewart, a Hugh Jackman é distribuído um fato de número muito superior ao que tem capacidade para vestir, James Marsden (o Ciclope) mais parece um apalermado mutante, e os outros estão lá... Estão lá muito simplesmente para comporem o ramalhete visual de um filme recheado de efeitos especiais, bons porque não dizê-lo, mas tudo o resto não justifica muito alarido. Ou justificará?

Sem comentários: