domingo, 10 de outubro de 2010

15 MINUTOS










120 MINUTOS DE ACÇÃO ALUCINANTE
     
      A certa altura de uma entrevista por si concedida a um programa de televisão a propósito de «A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça», dizia Tim Burton, no seu estilo meio alucinado meio lunático mas revelando humildade e muita prudência, que detestava catalogar um filme seu enquanto género cinematográfico antes de observado o produto final deste já que, referiu a título de exemplo, se fosse tentada uma comédia e esta depois não tivesse piada, poderia sempre socorrer-se de um qualquer outro género. Parece-me que em «15 Minutos», constatadas as temáticas socialmente preocupantes em que o argumento se empenha, John Herzfeld terá tentado tudo, desde um alucinante filme de acção a um thriller de contornos dramáticos, mas aquilo de que, parece-me, mais perto terá estado é de uma comédia. Comédia dramática, admito-o, mas comédia ainda assim.
     
      Aliás, é apenas reconhecendo ser este um filme que “tenta” ter piada onde deveríamos revoltar-nos, carcomir mágoas e, por desespero, chorar baba e ranho – bom, não se enojem, uma ranhocazita, vá lá! - que desculpamos as evidentes alusões críticas à violência exposta nas têvês. Numa tentativa clara de afirmar que se ultrapassam em muito os limites daquilo que será a obrigação de um jornalista em dar a notícia em prol das audiências e do share – coisa que já sabíamos - à custa de “lixo”, sangue e drama que deveria ter sido preservado por esses mesmos profissionais da informação, e quando afinal esta realização é pródiga em mostrar tudo isso sem pejo nem pudor, fica-nos, por educação, a justificada dúvida: terá sido esta vertente do filme uma irónica piada de Herzfeld ou terá ele também sucumbido ao pouco refinado facilitismo dos tão em voga esquemas de sedução das audiências?
     
      «15 Minutos» (um título em clara referência àquela famosa frase de Andy Warhol sobre a fama, bla, bla, bla... ), aborda não apenas a referida exploração da violência pelos media, como vai ainda mais longe ao especular com bastante pertinência sobre a perigosa relação que se estabelece entre o jornalismo e o crime (leia-se o criminoso) protegidos num código deontológico que não permite a divulgação da fonte da notícia. Aliado a tudo isto, toda a base de sustentação (ou de tentativa posterior de procura de inocência) para a acção dos criminosos reside na possibilidade de se contornar o sistema judicial norte-americano desde que se possua dinheiro para contratar advogados famosos e caros, alegando um sem número de barbaridades que poderão levar (como no caso tratado no filme) à inimputabilidade dos criminosos.
     
      Relativamente a interpretações individuais, Robert De Niro arranca uma boa corporização de um mediático polícia sendo este um papel que poderia muito bem ter sido propositadamente talhado para si, mas já Edward Burns – o elemento aglutinador de integridade no filme e, no seu final, o implacável justiceiro – surge aos nossos olhos sem alma, sem paixão, demasiado preso a esquemas prévios demonstrativos de homem justo e certinho. Destaque ainda para os dois psicopatas de serviço, apesar do facto de um deles, Karel Roden, o que é checo sempre com os azeites e que por via da sua barbárie se quis mais atemorizador, obedecer a todos os estereótipos do género. O outro, Oleg Taktarov, no filme russo de nascimento fã de Capra câmara de vídeo sempre empunhada realizador de filmes da vida real (?) amante do país das oportunidades (?), acaba por chamar a si alguns dos momentos de maior boa disposição da película.
     
      Em suma, um filme ofegante de acção, repleto de hipocrisia e ambiguidade, que trata temas sérios sem que se leve a si mesmo muito a sério já que - se é que foi tentada, coisa de que me permito duvidar -, está muito longe de poder constituir uma sátira à sociedade de informação ou outra que fosse.
     
      Lembro-me de novo das palavras sábias de Tim Burton sobre o que se quer “a priori” e o que se obtém “a posteriori” , o que me leva a presumir – justa ou injustamente - que não fosse realmente este o objectivo de John Herzfeld quando deitou mãos a esta obra.

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