quinta-feira, 14 de outubro de 2010

TEMPESTADE

       

      DESAFIANDO O PODER DAS ONDAS
     
      Baseado na obra literária de Sebastian Junger este é o mais recente filme do realizador de, entre outros, «Das Boot» e «Com Air», o alemão Wolfgang Petersen. Retrata a trágica viagem da embarcação de pesca de alto-mar «Andrea Gail», vítima de uma violenta tempestade ocorrida em Outubro de 1991, motivada por uma conjugação fantástica e raríssima de vários fenómenos climatéricos.
     
      E é centrado nesse factor de revolta violenta da natureza, que Petersen concentra na verdade todos os esforços narrativos. Podia não o ter feito. Podia aliás ter aproveitado essa ocorrência espantosa para nos envolver emocionalmente com o drama dos elementos da tripulação do «Andrea Gail». E ganharia com isso um rigor de narrativa comovedora - no sentido em que existe uma cumplicidade do espectador com os acontecimentos trágicos na tela - em que o filme, por via da opção assumida, acaba por falhar estrondosamente. Na realidade, existe uma tentativa para isso e há inclusivamente um esboço de criatividade na estrutura psicológica de cada um dos elementos da tripulação. Mas o que ressalta é a pobreza desse esboço dado que se trata de personagens que caminham singularmente na vida: ou falharam familiarmente - divorciados -, ou nem sequer algum dia constituíram família. Têm, por isso, todos muito pouco a perder com excepção da personagem de Mark Wahlberg. E esse aspecto acaba por ser determinante. Como resultado de tudo isto obtém-se um bom filme de acção, enriquecido com algum suspense e efeitos especiais capazmente demonstrativos do poder da natureza quando decide revoltar-se.
     
      Relativamente à análise técnica há algumas questões dignas de registo. Quanto ao argumento, já se disse, falha sobretudo na opção de importância temática adquirida. Os efeitos especiais são excelentes e cuidados e a recriação da povoação pesqueira e seus habitantes está correcta. Seria mesmo escusado, já no final do filme, aquele apertar de mãos das duas senhoras na igreja em que se vêem em plano de destaque, e de objectivo muito óbvio, as unhas muito sujas de uma delas - era, repito, dispensável. Quanto ao “cast”, George Clooney mostra competência mas não vai além disso como, provavelmente, a sua presença carismática requereria. Não consegue dar brilho a um capitão sobre o qual começava a escurecer a áurea dada pelas qualidades que em tempos evidenciara. Notas positivas para Mark Wahlberg e um actor que eu admiro, John C. Reilly. Positiva a tentativa de recuperação de uma actriz que, em tempos, chegou a prometer muito: Mary Elizabeth Mastrantonio.

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